O carcinoma ductal in situ não é câncer inicial, nem precursor do câncer de mama
Lucy Kerr
O link acima é uma reportagem veiculada de Rob Stein em 20 de agosto de 2015 em rádio dos EUA, na qual há entrevistas com vários médicos nos EUA, que afirmam que não é recomendável a mastectomia quando o diagnóstico da biópsia mamária for de carcinoma in situ, o qual se transformou na principal causa de mastectomia desnecessária após início da detecção dessa condição nos rastreamentos mamográficos de rotinas implantados em vários países e denunciados pela Cochrane como um dos piores malefícios do método.
Quadro 1. Quem ou o que é a Cochrane?
- Cochrane é entidade científica sem fins lucrativos
- Analisa a qualidade e metodologia das publicações científicas utilizando o manual da Cochrane para saber o que funciona ou não em relação aos diagnósticos, tratamentos e prevenção na área médica
- Revisões são publicadas e atualizadas na biblioteca online Cochrane
- Respeitada pela ciência ética e competente
- Temida por cientistas e grandes corporações que usam a ciências para desvirtuar a verdade em benefício próprio
- Denunciou a indústria farmacêutica
- Denunciou a indústria da mamografia
- Conta com aproximadamente 35.000 colaboradores no mundo
- Chefe da Cochrane da Dinamarca é Dr. Peter C Gøtzche que enviou à Dra. Lucy Kerr seus slides pessoais para auxiliá-la na campanha para abolir a mamografia no Brasil, uma das bandeiras da Cochrane
A mastectomia por CDIS- Carcinoma ductal in situ aumentou até em 422%1-2 devido ter-se descoberto recentemente que não é câncer inicial e nem precursor como se acreditava, e agora se sabe, após 20 anos de acompanhamento de uma grupo dessas mulheres que elas tem a mesma incidência de câncer do resto da população e é apenas um fator de risco, quando muito, mas não é câncer. O nome foi colocado erroneamente e precisaríamos mudá-lo, pois o termo carcinoma tem conotação muito ruim na mente das pessoas, traz imagens à nossa mente e que não são boas nesse caso.
Esse “câncer que não é câncer” é o principal responsável pelo aumento da detecção do “câncer bem inicial” que ocorre após se implantar o rastreamento mamográfico de rotina em todos ao países que o fizeram, o qual se manifesta por microcalcificações múltiplas e bilaterais e as mulheres acabam optando por mastectomia uni ou bilateral. Como não é câncer o resultado do tratamento é sempre muito bom na evolução dessas pacientes com carcinoma in situ. Ou seja, a mamografia aumenta a detecção do falso câncer de mama, mas não reduz a mortalidade do câncer que de fato é câncer, o qual não é detectado precocemente e surge como câncer de intervalo (entre os exames de controle), muito agressivo e fatal. O CDIS é principal causa dos diagnósticos excessivos da mamografia, sendo 29% na Europa e 33% nos EUA.
Quadro 2 – resumo de erros avaliação mamografia
- Defensores da mamografia apontam aumento da sobrevida dos casos câncer de mama detectados. É errado.
- Taxa sobrevida reflete diagnóstico excessivo e pessoas com diagnóstico excessivo não morrem de câncer de mama e são 2 os principais diagnósticos excessivos da mamografia:
- CDIS, que não é câncer e não se morre do câncer que não se tem
- Câncer de crescimento muito lento e sem metástases. O paciente morrerá com o câncer, mas não do câncer.
- Taxa de mortalidade, que detecta efeito real do rastreamento e inclui todas causas morte, inclusive do tratamento câncer
- mortalidade da câncer de mama não reduziu com o rastreamento mamográfico. Claro, simples e direto, sem contestação
E o pior é frequente termos publicações de pesquisadores com graves conflitos de interesses na defesa da mamografia e que “incham” as estatísticas que favorecem o método com o falso câncer para justificar que a mamografia continue sendo realizada.4-8 Felizmente elas são contestadas a seguir pelos pesquisadores da Cochrane e os graves erros metodológicos e conclusões absurdas são devidamente desvendados. 9-21 Segundo Dr. Peter Gørtzsche, é preciso analisar o todo e não fazer subgrupos desejáveis, que distorcem o resultado final das séries e cria os resultados desejados. São as pedaladas estatísticas, um artifício muito utilizado pelos que tem conflitos de interesse.
Slide cedido pelo Dr. Peter Gørtzsche à Dra Lucy Kerr apresentar em aulas que esclareçam sobre a ineficácia e maléficos da mamografia
1ª aula realizada em 27/08/15 e disponível em:
Figura 1. Dr. Peter Gørtzsche tapa rosto com as mãos frente ao absurdo do cartaz que vê na sala de espera Hospital Toronto: “Agora podemos detectar alguns cânceres mesmo antes de existirem”, Women’s College Hospital, Toronto, 11 Dec 2013
Mas o pior é termos que trazer uma reportagem da mídia americana para demonstrar que o que estamos dizendo é publico e notório lá fora.
Enquanto as mulheres norte americanas são devidamente informadas sobre a ineficácia e malefícios da mamografia, aqui nada…
E a conseqüência é que a ignorância é útil para manter a necessidade da mamografia desnecessária. Quem está ganhando com isso? A resposta a essa pergunta é a chave do “outubro rosa”, que de fato deveria ser chamado outubro negro.
Se desejar apoiar nossa campanha assine nossa petição eletrônica:
https://secure.avaaz.org/po/petition/Ministerio_da_Saude_Abolir_a_mamografia_pois_e_ineficaz_e_causa_maleficios/?tdDFyfb
Referências
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- Gøtzsche PC. Mammography screening. Truth, lies and controversies. Radcliffe Publishing Inc 2012, 1ªed
- Wall C, Baines CJ, Miller AB Is carcinoma in situ a precursor lesion of invasive breast cancer? Int J Cancer. 2014 Oct 1;135(7):1646-52.
- Dixon JM. Breast screening has increased the number of mastectomies. Breast Cancer Res. 2009; 11 (Suppl. 3): S19
- Tabár L, Duffy SW, Smith RA. Beyond randomized controlled trials. Author’s reply. Cancer. 2002; 94(2):581-3
- Tábar L,Yen MF, Vitak B e col. Mammographic service screening and mortality in breast cancer patients: 20 year follow-up before and after introduction of screening . Lancet.2003; 361 (9367): 1405-10
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- Tabár L. [Screening with mammography contribute substantially to a significant reduction in breast cancer mortality ] [Swedish]. Läkartidningen. 2003; 100: 3211
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